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O GLOBO: Wired Festival: Empresas sem valor social morrerão rapidamente, diz empreendedor

Pelo menos 17% das companhias devem deixar de existir nos próximos cinco anos, se não se adequarem aos novos valores da sociedade


RIO - As empresas duram cada vez menos tempo. Das que existiam antes de 1980, 80% foram extintas; mais 17% delas devem seguir o mesmo caminho nos próximos cinco anos. Há duas razões principais para isso: produção de inovações irrelevantes e uma profunda desconexão com o "zeitgeist", o espírito do tempo, os valores em voga na sociedade contemporânea.


Para dar sobrevida a qualquer companhia, é preciso criar valor social, defendeu o paulistano Rogério Oliveira, criador da Yunus Negócios Sociais, na palestra no Wired Festival, que acontece nesta sexta-feira na Casa França-Brasil e no Centro Cultural dos Correios, no centro do Rio.

— Pela primeira vez na história recente, fazer o bem para as pessoas e para o planeta significa gerar valor para sua empresa — disse Oliveira.


Segundo ele, vivemos a "era da pós-sustentabilidade", na qual não basta deixar de criar problemas para o mundo (seja ambientais, seja éticos): é preciso aumentar o valor social para sobreviver.

— A verba de responsabilidade social era o que sobrava do lucro do negócio principal. Hoje, as empresas já estão matando essa noção. A conta do valor social que você gera já terá de fazer parte do negócio.


Ele citou exemplos de negócios sociais, como o de um iogurte da Danone que não precisa de refrigeração — o que reduz os custos de distribuição e armazenagem, além de ser acessível para pessoas que vivem em regiões com falta de energia elétrica — ou um condicionador de ar inventado pela Intel que não requer energia para funcionar.


Oliveira mencionou também um projeto em que se envolveu diretamente: a criação da AMA, marca de água da Ambev que se tornou o primeiro negócio social corporativo no Brasil.


— Eles não atuavam na categoria de águas, criaram um produto novo onde 100% do lucro virou recurso para organizações que lidam com o problema de acesso à água no semiárido.

Em quatro meses, o produto passou da ideia à existência. Hoje, seus lucros bancam 28 projetos em 29 comunidades, atendendo a um total de 26 mil pessoas na região do semiárido.


Oliveira decidiu se envolver com essa área após ler o livro "Criando um negócio social", do economista bengali Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz em 2006 e pai do microcrédito.

O conceito de "negócio social", no qual os investidores não retiram dividendos — os lucros são reinvestidos na própria empresa e em seus objetivos sociais — mistura as metas de uma ONG (maximizar o impacto social) e a lógica autossustentável de uma empresa tradicional.

O setor já movimenta mais de US$ 228 bilhões — o equivalente a R$ 880 bilhões — no mundo inteiro, com mais de 11 mil projetos recebendo investimento apenas em 2017.


— Às vezes, as empresa recebem muitos sinais de que estão desconectadas dos valores da sociedade, mas não têm capacidade ou coragem de fazer as mudanças necessárias. Não significa não ter lucro, a empresa pode ser muito lucrativa. A reflexão é o que estamos fazendo com esses recursos, por que não mantemos eles abundantes no sistema, para encontrarmos soluções para os problemas da humanidade?

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